Suplementação para Fortalecer os dentes

Saiba como alguns nutrientes e vitaminas podem prevenir complicações orais e contribuir para fortalecer os dentes bem como para o sucesso dos tratamentos dentários.

O impacto da alimentação moderna na saúde oral

Suplementação para fortalecer os dentes: quando e porquê

A suplementação para fortalecer os dentes é o ato de ingerir vitaminas, minerais e outras substâncias bioativas que vão suprir possíveis deficiências ou fortalecer os valores dessas substâncias já presentes no organismo. A suplementação deve acontecer com objetivos específicos, como o de reforçar o sistema imunitário em períodos de esforço biológico (processos de cicatrização ou exposição a ambientes extremos), ou prevenção, em situações de propensão para o desenvolvimento de determinado tipo de doenças ou para gestão de estados crónicos.

Apresentam-se como uma necessidade nesta era com estilos de vida tão exigentes, sendo que é extremamente importante uma avaliação individual: a base fundamental de uma vida saudável são os comportamentos individuais, como sejam a rotina de sono e o exercício físico, associados a uma dieta saudável e uma boa gestão de stress. E com base nisso, conclui-se a necessidade ou não de suplementação e/ou prescrição de fármacos tradicionais. Esta é a cascata de avaliação correta, e a sequência racional que temos de ter sempre presente.

Uma nova visão de saúde integrativa

Existe uma tendência da população em geral por produtos naturais e por uma abordagem integrativa e funcional da saúde, que cubra todos os aspetos que influenciam a instalação de quadros de doença, sejam fatores genéticos, ambientais, estilo de vida, dieta ou mesmo bem-estar emocional. Isso está a transformar os profissionais de saúde e as suas práticas que vêem o paciente como um todo, em contrapartida ao tratamento apenas da doença e dos seus sintomas. As pessoas são organismos dinâmicos e complexos e não apenas um estado de saúde. O estado de saúde é o culminar de um conjunto vasto de experiências, vivências e comportamentos que resultaram num determinado diagnóstico.

Essa visão global é essencial também na Medicina Dentária, onde fortalecer os dentes passa por compreender o equilíbrio entre corpo, mente e nutrição.

Por outro lado, existe uma crescente procura pela redução da quantidade de químicos a que expomos o nosso corpo (seja a nível de medicamentos, produtos de higiene e cuidado pessoal, alimentação, etc). No entanto, o seu uso deve ser baseado em evidência e é nesse sentido que se pretende fazer o enquadramento da utilização de determinados produtos naturais no âmbito da Medicina Dentária para fortalecer os dentes.

O papel da nutrição e suplementação na Medicina Dentária

Em Medicina Dentária, como em qualquer área da Medicina, lida-se diariamente com estados de saúde diversos e uma miríade de circunstâncias clínicas que ditam a necessidade de certas terapêuticas. A nutrição tem aqui um papel central, já que a ingestão adequada de vitaminas e minerais é fundamental para fortalecer os dentes e prevenir doenças orais.

Podemos dizer que o trajeto de um paciente em Medicina Dentária divide-se em três momentos crucias que carecem de abordagens especificas e onde a suplementação pode revelar-se um instrumento fundamental: Diagnóstico, Tratamento e Manutenção.

1. Diagnóstico

Na avaliação da saúde geral de um paciente em Medicina Dentária, há certas patologias e medicações que são de maior relevância por poderem interferir com os tratamentos a realizar, com a recuperação e com o sucesso e manutenção a longo prazo dos tratamentos realizados. 

A diabetes mellitus descontrolada promove uma cicatrização mais lenta, maior susceptibilidade a infeções e maior risco de periodontite; doenças autoimunes (síndrome de Sjögren, artrite reumatóide, lúpus) podem manifestar-se com boca seca e aumentar o risco de cáries e infeções; doenças oncológicas e o seu tratamento através de radioterapia e quimioterapia poderão aumentar o risco de infeção, de osteorradionecrose e de mucosite.

Sendo assim, há passos a dar no processo de diagnóstico e como preparação para a realização dos procedimentos orais necessários, e que já nos permitem avaliar se existe algum desequilíbrio num panorama mais geral.

São exemplos disto, análises clínicas como um hemograma completo com estudo de coagulação, vitamina D, vitamina B12 e folato; ferro e ferritina; hormonas da tiróide; função renal; HbA1c e glicemia em jejum. A interpretação destes resultados dentro dos sintomas manifestados e dos exames e história clínica do paciente vai permitir inferir sobre a necessidade de pedir exames adicionais, encaminhar para outras áreas da Medicina e ajudar na gestão do paciente em tratamento, contribuindo para fortalecer os dentes e o organismo como um todo.

2. Tratamento e Manutenção

Na fase de tratamento e no posterior processo de manutenção importa conhecer as substâncias que podem contribuir para o sucesso dos tratamentos. Devemos também compreender como as deficiências vitamínicas impactam a saúde oral e a capacidade de fortalecer os dentes de forma eficaz.

Segue-se a descrição dos principais nutrientes e compostos com papel reconhecido na saúde oral e no sucesso dos tratamentos dentários, ajudando a fortalecer os dentes em todas as fases da vida.

Vitamina A

A vitamina A é essencial para a saúde oral porque ajuda a manter as mucosas da boca, língua e gengivas, saudáveis e protegidas, além de apoiar o sistema imunológico para combater infeções e garantir o fluxo adequado de saliva, que ajuda a decompor alimentos e a eliminar bactérias. A deficiência de vitamina A foi associada a uma diminuição no desenvolvimento de epitélio oral, alterações na formação dentária, hipoplasia do esmalte e periodontite. Assim, níveis adequados desta vitamina contribuem diretamente para fortalecer os dentes e manter as gengivas resistentes.

Complexo vitamínico B

O complexo vitamínico B inclui vitaminas hidrossolúveis que têm um papel em processos tão importantes como produção de energia, função enzimática e saúde neurológica. A sua deficiência pode influenciar a cicatrização, intensificar reabsorção óssea alveolar e diminuir a capacidade de resposta do organismo a infeções. A evidência científica aponta cada vez mais para uma relação com a doença periodontal. A sua falta foi associada a estomatite aftosa recorrente, hipomineralização de esmalte, queilite, halitose, gengivite, glossite, atrofia das papilas gustativas, estomatite, disfagia, tez pálida.

Por outro lado, são cruciais para a manutenção e regeneração dos nervos, e a falta delas pode levar a alterações neurológicas que resultam em sintomas de parestesia (dormência) na boca. Suplementos do complexo B podem ajudar a fortalecer os dentes e apoiar a cicatrização.

Vitamina C

A vitamina C (ácido ascórbico) está envolvida na reparação tecidual e executa um papel importante em vários processos biomecânicos, incluindo síntese de colagénio, proteção imunológica e regeneração de outros antioxidantes. Num quadro de deficiência de vitamina C, por exemplo, há produção de moléculas de colagénio defeituosas, resultando em tecidos conjuntivos fracos (que são os tecidos responsáveis por unir, ligar, nutrir e sustentar outros tecidos do corpo), como o tecido conjuntivo presente no ligamento periodontal, ao redor dos dentes. Estudos indicam que a vitamina C desempenha um papel fundamental na cicatrização após extrações e implantes dentários. A administração local e sistémica melhorou significativamente a cicatrização do osso e gengiva, ajudando também a fortalecer os dentes.

Vitamina D

A vitamina D está relacionada com a saúde óssea e de uma maneira ou de outra está na boca do mundo já que os níveis da maioria da população, incluindo a portuguesa, apesar de ser um país de sol, estão abaixo dos valores de referência. Estima-se que cerca de 200 milhões de pessoas em todo o mundo sofram de osteoporose, estando este número a aumentar o que o torna num problema de saúde pública. Sabemos que uma dieta adequada, com ingestão de alimentos ricos em vitamina D (peixes gordos) e exposição solar diária (15-20 minutos) são fatores preponderantes para uma estabilização dos níveis de vitamina D, e que o reforço com cálcio e proteína, e exercício físico vão contribuir para um melhor metabolismo ósseo.

Mas quando estas medidas não são suficientes, a falta de vitamina D tem sido associada a várias doenças inflamatórias, incluindo a periodontite, como o demonstraram estudos clínicos.

Vitamina K

A vitamina K desempenha um papel importante na coagulação e saúde óssea e cardiovascular e há muito que é reconhecida como um agente terapêutico no tratamento de osteoporose, principalmente na sua forma K2. No entanto, é difícil obtê-la através da dieta, uma vez que está presente em poucos alimentos, nomeadamente fermentados, como repolho fermentado (chucrute). Além disso, a maior parte da vitamina K ingerida é utilizada pelo fígado para a produção de fatores de coagulação, deixando-a em deficiência nos ossos. Existe um corpo de evidência crescente sobre o papel da combinação de vitamina D e K na otimização da regulação do metabolismo do cálcio, garantindo que o cálcio seja depositado nos ossos e dentes, em vez de se acumular nos tecidos moles e vasos sanguíneos.

Isso poderá permitir uma maior segurança em tratamentos com implantes dentários atuando preventivamente na perda óssea, e de uma forma geral na cicatrização dos tecidos. Esta combinação tem sido igualmente estudada no tratamento de periodontite crónica com resultados promissores, influenciando a eficácia do tratamento e a severidade da doença.

Ashwagandha

É um facto que o interesse por tratamentos à base de plantas tem aumentado devido à sua segurança e eficácia, já que se estima que cerca de 44% das plantas com flor possuem compostos medicinais com propriedades antioxidantes e anti-inflamatórias. A Ashwaganda é uma planta medicinal muito reputada e utilizada há séculos na medicina tradicional indiana. Vários estudos corroboram os efeitos benéficos de Ashwaganda, como potente agente anticancerígeno, com efeitos antioxidantes, anti-inflamatórios e calmantes, usada também como coadjuvante na gestão de stress e infeções orais. A utilização desta planta auxilia a fortalecer os dentes, mantendo tecidos orais mais resistentes.

Quercetina

A Quercetina é um flavonoide natural com propriedades antioxidantes, anti-inflamatórias e antienvelhecimento, desempenhando um papel importante na proteção cardiovascular e neurodegenerativa. Está presente em diversas frutas, como uvas e maçãs, e em vegetais como cebolas e alcaparras. Na Medicina Dentária, a Quercetina apresenta benefícios significativos devido à sua ação antioxidante e anti-inflamatória, bem como pela sua capacidade de atuar como agente antibacteriano, impedindo a sua adesão e a formação de biofilme, principal responsável pelo aparecimento da cárie dentária e da doença periodontal. Estudos demonstram que a Quercetina possui uma eficácia semelhante à da clorohexidina na redução do biofilme. 

Coenzima Q10

A Coenzima Q10 é um antioxidante que reduz o stress oxidativo e a inflamação, mostrando especial eficácia na doença periodontal, onde os níveis desta substância estão frequentemente diminuídos. A suplementação com CoQ10 pode atuar como coadjuvante no tratamento periodontal, ajudando a reduzir a inflamação e a melhorar os parâmetros clínicos.

Além disso, estão a ser estudados os seus potenciais benefícios no tratamento da Síndrome da Boca Ardente.  O seu uso contribui também para fortalecer os dentes, promovendo gengivas mais saudáveis.

Curcuma

FAQ's

A suplementação pode substituir uma alimentação equilibrada?
Não. A base de uma boa saúde oral é uma dieta equilibrada e hábitos saudáveis. A suplementação deve funcionar como uma ferramenta complementar.

É seguro tomar suplementos para fortalecer os dentes sem orientação médica?
Não. A suplementação deve ser personalizada e acompanhada por um profissional de saúde.

Que vitaminas podem ajudar no processo de cicatrização após uma intervenção para colocação de implantes dentários?
As vitaminas C, D e K têm papel fundamental na regeneração tecidular e óssea.

Existem suplementos naturais eficazes para gengivas sensíveis?
Sim. Compostos como a coenzima Q10 e a curcumina têm propriedades anti-inflamatórias comprovadas.

Como saber se preciso de suplementação?

Através de avaliação clínica e análises laboratoriais, que determinam deficiências nutricionais específicas.